A Bordo da Grande Stupa


Conversando com uma amiga, começamos a falar da Grande Stupa em Boudhanath, Kathmandu, Nepal. É um enigma a sua origem, quando, como e por quem foi construída. Na internet achei uma lenda:

Segundo uma lenda muito popular, há muito tempo atrás, o reino de Kathmandu estava enfrentando uma falta de chuva aterrorizante. O Rei Dharma Deva estava muito preocupado. Uma astróloga o aconselhou que só o sacrifício de um homem ideal, com 32 virtudes, na frente de uma bica de água, poderia fazer a chuva cair de novo no país. Na noite seguinte, o rei mandou  que seu filho fosse para um local dentro do complexo do palácio real, onde tinha uma bica de água. Ele deveria numa certa hora da noite decapitar a cabeça de uma pessoa envolvida em vestes brancas, sem olhar para ela. O príncipe obedeceu, mas para seu grande horror descobriu que a pessoa era ninguém menos que seu próprio pai. A fim de reparar  seus pecados e seu remorso, o príncipeconstruiu a grande stupa.

Well, minha amiga acha que a Stupa é uma nave espacial que pousou ali. Olha, que até pode ser, pois os seus olhos são magnetizadores. Risos! Dizem que ela é uma jóia que realiza desejos, se feitos com o coração e fé. Nos dias auspiciosos e festivos, os tibetanos colocam na sua ala interna (jardim e local de prostação) várias oferendas. E há dias em que ela fica toda iluminada com luzinhas pequenas. Boudhnath tem uma energia muito especial, diferente de outras áreas de Kathmandu. Voltar para Boudha é voltar para casa, até mesmo para alguns estrangeiros não ligados ao Budismo. 

Quando estava no Nepal ano passado, no início, me incomodava todo o comércio envolta da Grande Stupa, mas depois algo foi mudando na minha mente e passei a ver tudo aquilo como uma grande oferenda de mandala. Também me incomodava o barulho e a multidão de pessoas circumbulando em volta dela; ficava impraticável caminhar pelo lugar. Mas isso também foi mudando, e eu fui passando a ver parceiros de prática caminhando juntos. É o poder da Stupa. De tanto olhar para ela, ela olhou para mim!

Uma das coisas mais lindas de se fazer é ascender lamparinas, a noite, seja nas banquinhas de lamparinas, ou seja em volta da stupa (velinhas pequenas). Na hora do apagão agendado fica lindo! No Nepal o problema de luz se agrava nas épocas de seca, pré-moções. Agora, parece que são 12 horas sem energia, distribuídas durante o dia. De antemão, as pessoas já sabem quando não terão luz e se organizam. Muitas lojas e empresas tem backup de energia (gerador). Não sei porque estou indo de novo para lá,  já que aqui na India está tão cômodo e confortável; mas o Nepal me chama outra vez, e com a perspectiva de voltar ao Brasil, nada melhor que as bençãos da Grande Stupa.

Se ela fosse uma nave espacial, poderia negociar com ela um vôo para o Brasil, na moeda da circumbulação, mas como eu iria explicar, e onde eu iria pousar? Então, vou continuar escalarndo um vôo na Grande Stupa Airlines em meu coração, até aqueles lugares onde o ego se esconde. Vou usar do fogo das lamparinas para dissolver meus obscurecimentos internos e o calor delas para aquecer meu coração, e me lembrar mais da compaixão. Seguindo o exemplo de seu olhar meditativo, vou procurar a estabilidade de minha mente, para que por meu da sabedoria não veja mais a separação, mas a natureza verdadeira de todas as coisas. E assim, possa pisar nessa Terra de Maya com Gawa.

Março/2010