Em Transito Expresso

Despedidas e viagem, uma boa mistura nesse universo chamado Índia, tão grande e diferente, mas ao mesmo tempo tão semelhante. A viagem para renovar o visto para India na Tailândia começou no dia 26 de novembro quando me despedi de Bir e fui para Mc Leod. Eu, Natasha, Douglas e Lucas somos os personagens dessa viagem cercada de vários enredos. Nosso ônibus saiu no dia 27 de Mc Leod para Delhi, dessa vez não foi pula-pula, mas mesmo assim não dormi. Chegamos em Delhi, especificamente na colônia tibetana, no dia 28 logo cedo. Deixamos as malas num guarda volume em um hotel e fomos passear por Delhi. Nosso trem expresso sairia somente as 17 horas da tarde, então tínhamos algum tempo. O enredo principal e comum de nossa viagem era saber se iríamos embarcar ou não por conta do fechamento do aeroporto em Bangkok. Mas na dúvida tínhamos que ir, nosso visto estava vencendo e não podíamos mais permanecer na India. O trem para Calcutá, onde nosso suposto vôo sairia, saiu por volta da 17:30h.

A viagem de trem, numa terceira classe, foi bem interessante. O trem que pegamos é o melhor da índia e o serviço bem melhor do que imaginei. Aliás, eles ofereceram tanta comida que eu não acreditei...risos! Só para vocês terem uma idéia, quando embarcamos, tivemos um lanchinho (sanduíche de queijo, suco em caixinha, um negócio frito e apimentado, é claro, e um docinho), depois tivemos chá (um saquinho com 2 saquinhos de chá, dois de açúcar e 1 de leite em pó da Nestlé), depois disso tivemos outro lanchinho (sopa servida num copo, uns canudinhos de pão crocantes e manteiga em caixinha). Aí nos preparamos para dormir, pois o Lucas dorme cedo. Mas não é que veio o dinner, pode? (que foi arroz, dal, um negócio picante com queijo e um molho, iogurte e sorvete). Bem dormimos... e no desejum tivemos chapatti, chá, manteiga, geléia, e croquete de alguma coisa que não sei...), depois ainda tivemos duas rodadas de café com leite e uns bolinhos fritos. Isto tudo servido naquelas bandejinhas de avião, bem organizado e empacotado.

Chegamos em Calcutá as 13 horas do dia 29 e fomos procurar um hotel. A situação em Bangkok continuava a mesma, um amigo meu que conheci aqui, me mandava sempre notícias por mensagem no celular. Nosso vôo estava marcado para o dia 30 às 7:30h, fomos para o aeroporto mesmo sabendo que estava cancelado. Terminamos nos encontrando com outrs passageiros na mesma situação e nos foi recomendado ir no dia seguinte ao escritório da companhia aérea para vermos uma solução. O visto de meus amigos acabou justamente neste dia e o meu acabaria dia 2 de dezembro. Fomos para outro hotel onde alguns passageiros estavam hospedados e no dia seguinte fomos para o office da India Express. A fila era grande... Enquanto isso, fomos ver a extensão do visto, que, aliás, foi uma novela, o chefão só dava a extensão com a remarcação da passagem em mãos e ainda disse que nossa situação não era Business dele. Voltamos no office da India Express e remarcamos para dia 07 na esperança de até lá tudo se resolver. Conseguimos nossa extensão, digo, permissão para ficar na India até dia 09 de dezembro.

Daí um outro enredo... minha garganta começou a doer... acho que foi em decorrência do ar condicionado do trem juntamente com sei lá quantas pessoas dorminhos juntas no mesmo vagão, mais o ar poluído de Calcutá, somado com a tensão do momento... bem fiquei gripada, tive febre e fui tomando meus remedinhos do Himalaya e aplicando Jin Shin Shiutso. Não costumo ficar doente, mas quando fico... Então, o enredo consistiu em 3 adultos e 1 criança dormindo no mesmo quarto por 6 noites, cada um com sua personalidade, estilo de vida e etc... Foi nossa prova! E até que resistimos! Eu fiquei mais no quarto por causa da gripe, mas meus amigos até que passearam um pouco. A questão era o que fazer em Calcutá sem gastar tanto, pois essa história de ficarmos presos uma semana terminou nos quebrando financeiramente, pois os preços eram bem mais altos que Delhi e Dharansala.

Apesar disso tudo, para mim que sou budista, veio o entendimento sobre algumas coisas a respeito de carma e motivação. Eu tive um sonho que não vou relatar aqui, mas que mostrava que havia um motivo cármico por traz da minha doença naquele momento. Muitas vezes é melhor a gente de fato não saber o que está por trás de certas coisas, e apenas mantermos a fé... Apesar do meu sofrimento me regozijei por está purificando algo tão profundo como o sonho sinalizava. Os dias passaram na terra de Madre Tereza, uma visão diferente da India que conhecia até então. Me lembrei de um sonho com o Karmapa, no qual eu ia para a cidade mais pobre da índia, tão suja e sombria, e para conseguir o visto que ele, o Karmapa, estava dando, o pré-requisito era a motivação. No budismo, a motivação correta, a motivação do bodisatva, é o caminho mais excelente para alcançarmos iluminação e beneficiar outros seres.

Qual a relação, qual a interdependência, entre estar doente, presa em Calcutá, um lugar onde há tanta gente pobre e poluição, por causa de uma manifestação em Bangkok, e ao mesmo tempo assistindo as conseqüências do terrorismo em Mombai? Eu não tenho a onisciência de um Buda para ver a interdependência disso tudo, mas sinto que muita coisa mudou no meu coração e acho que nem mesmo eu sei o quanto...

... Enfim, embarcamos no dia 7 às 9:30h para esta terra chamada Tailândia.

Novembro/2008