SS o Dalai-Lama


Todos atentos... Em posição de reverência... Cercado de seguranças e sua comitiva, S.S o Dalai Lama passou olhando para as pessoas como se procurasse por cada uma. Que emoção! Olhei para as pessoas, tibetanos e ocidentais, todos emocionados, todos tocados com a energia desse ser sublime. Como expressar a gratidão de simplesmente vê-lo? Como agradecer as pessoas que contribuíram para que eu estivesse aqui? Eu agradeço a você agora, irmão, irmã, seja como um familiar, seja como um amigo, seja como sanga, ou simplesmente um conhecido, eu agradeço a você agora!

Há jóias raras neste mundo. Seres sublimes que aceitam estar num corpo humano, reencarnar, por compaixão. A compaixão de um ser como SS o Dalai-Lama é como um sol que brilha sem esforço, nos ensinando que é possível irmos ao encontro desse mesmo sol, simplesmente sê-lo, porque de fato nós o somos, mas não vemos isso. E o "não-ver" trás tantos malefícios, tantos equívocos!

Ontem estava vendo um filme koreano: “Primavera, verão, outono, inverno e primavera”. Não vou contar a história para que você possa ver. É um filme budista sobre a relação de um mestre e um aluno. Este filme é sempre uma inspiração para mim, pois a compaixão de um mestre encontra várias formas de alcançar o aluno, de trazê-lo de volta ao estado de reconhecimento de sua verdadeira natureza, sem dualidade. Os ensinamentos e os métodos são tantos, mas a devoção do aluno para com o professor é algo inigualável, pois esta devoção permite que o aluno veja o seu mestre como Buda e assim possa ver a si mesmo como Buda.

Diante daquela multidão de pessoas tão diferentes, com devoções variadas, pude ver o poder de um mestre como o Dalai Lama. De alguma maneira cada pessoa foi tocada como deveria ser tocada. E ao tocar cada uma, ele tocou todos os seres! A energia de sua bondade convidou cada um a se posicionar num banquete sagrada, totalmente interdependente.

E falando em interdependência, nesse banquete, havia comida brasileira! Não sei se nos outros países é assim, mas quando brasileiros se encontram, mesmo que nunca tenham se visto antes, se tornam amigos de repente. É algo surreal. Alguém passa, vê uma sandália havaiana e pergunta: “você é brasileiro?”. Aí já são dois e dois sempre atraem mais, e você termina tendo que tomar cuidado com o que fala na rua, pois de repente surge um brasileiro que ouviu você xingar o taxista indiano que estava querendo te cobrar a mais!!!! Risos! Pois é, havia um grupo de brasileiros lá, sentados todos juntinhos com direito a uma tradutora do inglês para o português e do tibetano para o português, via transmissão de radio. Como é que eu vou treinar inglês, se eu só encontro brasileiro aqui, me diga?!!! Foi ótimo conhecê-los, conhecê-los fora do Brasil, num templo budista, com a energia de nosso Dalai-Lama. Foi ótimo andar pela rua, tomar sorvete, falar de astrologia, jantar juntos e ir embora como se fosse encontrá-los depois.

O bom de um banquete internacional é que você pode reconhecer o que lhe é familiar, se familiarizar com o que lhe não é familiar, aprender a respeitar as diferenças, pois somos todos irmãos, e ao mesmo tempo reconhecer que apesar delas somos todos Buda!

Então, o Buda que eu sou se despede agora do Buda que você é! 

Setembro/2008