Old Woman


Já fazem 15 dias que estou em Bir e 19 dias na India! A adaptação está indo bem, já estou criando uma rotina de estudo e prática do ngondro e estudo do inglês (que continuo aqui). No Deer Park só haverá ensinamentos em setembro. Algumas pessoas da comunidade tibetana e indiana já são familiares, de modo que sempre nos cumprimentamos. Vez ou outra ainda ouço a pergunta: você é indiana? Digo que não e eles respondem: você parece uma indiana! Um guri que trabalha num café tibetano (Ghatghen Café) perguntou se eu era indiana e com a minha negativa falou para sua patroa: “não sei como falar em inglês, mas ela é indiana!”... risos! Aqui tem alguns cafés tibetanos (restaurantes que servem todas as refeições) e em todos que já fui há crianças trabalhando: é triste por um lado, pois elas não estão estudando, mas por outro não estão mendigando, como vemos freqüentemente em cidades maiores. Aqui em Bir vi apenas uma família de mendigos: mãe e 3 crianças.

Patrícia tem me ajudado muito por aqui me dando muitas dicas; ela volta para o Brasil agora em julho. Aqui já conheci mais 3 brasileiros: uma monja, Márcia, e seu amigo Hamilton, e um monge, João Paulo. Ainda não visitei os monastérios, mas já dei uma volta na grande stupa do Chokling Monastério, e já vi no pátio deste um ensaio de Lama Dancing. Já fui também na lojinha do Ningma Monastério e olhei de fora o templo. De manhã cedo quando vou tomar café de manhã, ouço o som dos instrumentos tocados em pujas, me lembro sempre do Khadro Ling. Chagdud Rinpoche criou um tesouro do budismo tibetano no Brasil, e me sinto feliz por saber que há pessoas com dedicação e amor verdadeiros cuidando disso.

Bem, mas esta introdução toda foi apenas um aquecimento para que eu pudesse falar da Old Woman. A Old Woman é um velha tibetana, que não sei o nome, pois ela não fala inglês. Acho que ela deve ter uns 80 ou 90 anos. Ela anda curvadinha com uma bengala, mas ela anda bem curvadinha (ângulo de 90°) e bem devagar. No Deer Park tem separação do lixo e um trabalho de reciclagem, ela vai todos os dias pegar os restos de comida para dar para as vacas e outros animais. Ela vai todos os dias! Carrega o peso do resto de alimentos num saco, todos os dias! Ela é uma Old Woman tão linda! Quando eu passo por ela, me curvo na altura dela e falo: “Tashi Delek!” (um cumprimento tibetado). Ela olha, dá um sorriso tão grande, com uma caretinha tão linda que me deixa tão feliz. Pega minha mão e põe na testa dela, eu pego a dela e ponho na minha. Um dia, estava eu e Patrícia conversando no refeitório e ela chegou para pegar os restos de alimentos, e passou por nós, a cumprimentamos, e ela parou, deu um sorriso e depois rezou baixinha por nós. Foi tão emocionante, que se eu tivesse que voltar hoje para o Brasil, já teria valido a pena.

Ela tem sido meu objeto de prática, no sentido de treinar a perseverança na minha prática espiritual... ela tem sido fonte de inspiração para que eu possa relembrar continuamente de minha motivação. Não sei o karma que ela possa ter de andar “curvada para todos", só sei que na simplicidade do seu ser há a grandiosidade de Buda, e eu me curvo para ela.

Há outros old women e old men por aqui...eles se sentam todos juntos e giram rodas de oração cantando OM MANI PADME HUM. Quando desço rumo à rua principal de Bir, passo por eles, na verdade, entre eles, e recebo as bênçãos de suas preces... Quando ouso olhar e deixar de lado minha timidez, dou um sorriso e recebo outros sorrisos e OM MANI PADME HUM.

QUE TODOS OS SERES POSSAM SER BENEFICIADOS!

Julho/2008