Uma mudança na minha vida


Nossa vida é feita de ciclos, mortes e renascimentos numa mesma vida, nos impulsionando para a mudança. Se vamos mudar para melhor ou não depende de nós mesmos e da arte de sabermos nos escutar.

O escutar envolve ouvir com uma mente mais atenta e profunda. Apesar de não ter a mente tão profunda, estou treinando a arte de escutar-me para poder ajudar o outro melhor. E foi o fruto dessa escuta que fez com que eu mudasse o rumo de minha vida.

Eu morava num centro budista no Brasil e depois de três anos e meio lá, um movimento novo e singular começou a fazer sentido para mim. Este movimento começou com a leitura de um site que uma amiga me indicou, pois ela estava indo para Índia e iria ficar hospedada neste lugar. Fiquei apaixonada com o projeto dessa instituição na Índia (Deer Park Institute) e a vontade de estudar mais o Budismo ressusgiu na minha mente de uma forma que agora fazia mais sentido. Então, o movimento de ir para Índia começou em julho de 2007.

Como todo movimento há obstáculos, principalmente internos, mas acredito que quando estamos seguindo nosso caminho como uma opção mais consciente de aprender sobre nós mesmos, mudar a nossa mente e servir aos outros, as bençãos vão vindo, os aliados vão aparecendo.

Agora estou em Brasília, onde minha família mora, me organizando para ir para Índia. Este é um período importante, que gosta de chamar de intermédiário, pois eu precisava fechar um ciclo de minha vida que teve muito crescimento, mas também momentos difíceis. Eu precisava ficar um pouco aqui com minha família para curar uma parte de mim mesma.

Minha principal prática espiritual tem sido shamata. Para escutar a nós mesmos e os outros é preciso silenciar, é preciso curar a dispersão. O mestre Thich Nhat Hanh escreveu no seu livro "Cultivando a mente do amor", que devido a interdependência de todas as coisas, quando cuidamos de nós mesmos estamos cuidando dos outros. Quando tocamos um flor com profundidade, tocamos todo o Cosmos. Quando sentamos para praticar, devemos sentar para praticar para todos. Isso é realmente profundo para entender, além de uma mente intelectual.

Esta fase intermédiaria, então, tem servido para eu enxergar os meus equívocos. Um deles é que para se ter uma vida espiritual é preciso está vivendo num centro budista ou num lugar espiritual. Eu precisava ver isso, para poder dar os próximso passos de minha vida mais consciente. Eu estou indo para um país conhecido pelo seu sincretismo espiritual, estou indo para uma vila, chamada Bir, que é um lugar espiritual, mas a minha vida espiritual é uma atitude da minha mente.

Então, estou preste a dar os próximos passos de minha vida. Minha escolha é fruto desse escutar o coração, é fruto de uma mente que está buscando aprender sobre confiança, fé e entrega.

Agradeço a todos que contribuiram no meu caminho. E pela força da interdependência, que meu caminho possa trazer algum benefício a todos os seres. 

A Ponte de Zhaozhou

" Dizia-se que perto do mosteiro Guanyin, na provícia Hebei, havia uma ponte famosa chamada Ponte de Pedra de Zhaozhou (chao-chou)...
Monge: Ouvi falar da Ponte de Pedra de Zhaozhou, mas quando lá cheguei, vi apenas uma ponte feita de um só tronco. Onde está a Ponte de Pedra?
Mestre: Você viu apenas o tronco, não a Ponte de Pedra.
Monge: Sim. O que é exatamente a Ponte de Pedra?
Mestre: É a ponte que permite a travessia de burros, cavalos e todos os seres do mundo.
A ponte de tronco real só permitia a travessia de uma pessoa de cada vez, mas pela misericórdia de Zhaozhou, a de pedra abstrata permitiu a travessia de todos os seres ao mesmo tempo."


Maio/2008
(Foto: "A Roda da Vida" - fonte: www.dharmanet.com.br/khyentse/roda.htm)